quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Campeão com memória

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Joaquim Branco revive momentos de glória no atletismo do Belenenses
Um campeão com memória. Para quem vai completar 88 anos em janeiro, Joaquim Branco aparenta ainda uma frescura fisíca notável. Sem a ajuda de bengala, o antigo fundista do Belenenses, primeira figura do atlétismo português nos anos 40 e 50, faz inveja a muita gente. Vive das boas recordações, dos muitos recordes que bateu em Portugal e Espanha e dos tempos em que era árbitro de futebol.
Para quem só tem a quarta classe e correu descalço a partir dos 16 anos em Pampilhosa do Botão, concelho da Mealhada, o orgulho é imenso quando revive esses tempos heroicos.

"Sou ignorado neste país", lamenta o antigo fundista e recordista ibérico.

Mas como não há bela sem senão, Joaquim Branco fica com a voz trémula quando se fala do mundo de hoje e da inteligência que é preciso ter para os cêntimos chegarem até ao final do mês. "A reforma que recebo dá para pagar os remédios necessários para mim e para a minha mulher. Enquanto for vivo, esta é a ajuda que posso dar-lhe. Quando morrer, não sei o que vai ser dela..."

Em Joaquim Branco facilmente se descortina haver ali um sentimento de revolta. "Sou ignorado neste país", exclama o antigo campeão. "Bati recordes ibéricos, ganhei aos espanhóis, fui o melhor atleta português em 1949 e transportei a bandeira nacional. Dei tudo ao atletismo. Ninguém me chama para nada. E o mais incrível é que a bandeira nacional é a mesma", argumenta.

Serviço militar. A entrada no serviço militar possibilitou a Joaquim Branco a vinda para Lisboa. Fez os testes físicos, ficou apto e num crosse militar foi 13º. O capitão Vasco da Costa, adepto fervoroso do Belenenses, passou-lhe uma carta para se apresentar nas Salésias. "Sim meu capitão". Branco respeitou a recomendação e dois dias depois estava a treinar-se já sob orientação do técnico Alberto Freitas. "O Belenenses abriu-me todas as portas e na tropa não nego que cheguei a ter algumas regalias. O capitão Vasco da Costa dava ordens para ter uma alimentação melhor. E todos lhe obedeciam", conta.

Sem toalha. A entrega ao atletismo foi total pese embora as dificuldades desse tempo. "Nas Salésias, ao princípio, nem havia dinheiro para as toalhas. O roupeiro, o senhor Manuel, dava-nos uma camisola velha para a gente se limpar após os treinos. Nesse tempo não havia sapatos de treino. Corríamos com umas alpercatas, cuja representação pertencia ao Acácio Rosa. Os dedos dos pés ficavam com bolhas de sangue."

Não foi preciso esperar muito tempo para Joaquim Branco retirar da lista de recordes o nome de Francisco Bastos. "O Alberto Freitas não me largava. Mandava-me ir ter com ele ao emprego e depois pagava-me o lanche. Sabia que para render tinha de ter um boa alimentação..."

Um beijo à mãe a meio da viagem
Joaquim Branco ficou radiante quando soube que ia correr a Barcelona, cidade que passou a ser a sua preferida por ali ter batido os recordes ibéricos. A comitiva portuguesa viajou de comboio e Branco não escondia algum nervosismo nesse dia "Telefonei à minha mãe para estar na estação da Pampilhosa à minha espera. Quando o comboio parou, desci para lhe dar um beijo às escondidas dos meus colegas de Seleção".

"As saudades eram muitas", confessa Branco.
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