sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Joaquim Murça: «Quizeram fazer de mim o bode expiatório»

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Dedicação. Depois de ter terminado a carreira de jogador. Murça encetou a de treinador de guarda-redes no clube do Restelo, função que exerceu desde a temporada 1989/90, tendo conhecido diversos treinadores, como Carlos Carvalhal, José Couceiro e João Carlos Pereira, entre outros

Saiu do Belenenses em litígio. Foi contactado para um acordo que não se consumou e recusa a ideia de ser culpado pelo facto de os azuis não terem inscrito jogadores em Janeiro.

Record - O que se passou, de facto, com o Belenenses?
Murça - Estive 6 meses sem receber, tentando sempre falar com o clube na esperança de que me pagassem, mas a resposta era a de que não havia dinheiro. Foi nessa altura que comuniquei ao Belenenses que não tinha como sobreviver e teria de levar o caso a tribunal. Era a última coisa que queria fazer, tratando-se do Belenenses, um clube que defendi, de coração, durante 30 anos. Chegou a haver uma tentativa de acordo que nunca se consumou. Esta é uma situação que dura há um ano.

R - O clube não falou consigo durante este tempo todo?
M - O Belenenses disse-me que só podia pagar uma determinada verba. Chegámos a um princípio de entendimento no qual eu abdicava de uns meses de vencimento. Davam-me um "xis" e o resto em prestações suaves. Olhando para a situação do clube, aceitei. Porém, uma semana depois o meu advogado recebeu um e-mail do clube a comunicar que, afinal, não havia acordo. Isto aconteceu em novembro de 2011.

R - Recentemente, tentaram chegar a novo acordo. É verdade?
M - É. Durante todo o mês de janeiro. Depois de um ano sem me perguntarem se tinha dinheiro, se estava bem ou se passava fome, Marco Paulo [Diretor-Desportivo] contactou-me. O presidente António Soares ligou-me pela primeira vez no dia do fecho das inscrições, a propor um acordo.

R - Que consistia em quê?
M - Disse-me que estava farto de ouvir os sócios a dizerem que não queria resolver a situação comigo. Propôs-me uma verba inicial baixa e o restante em prestações. Não aceitei e, horas depois, o meu advogado telefonou-me a dizer que o Belenenses estava interessado em fazer uma nova proposta. Achei a situação estranha e voltei a não aceitar. Davam-me, na mão, uma verba maior, pagavam-me o restante faseado, mas eu teria de abdicar de um montante significativo.

R - Acabaram aí as tentativas de entendimento?
M - Não. Mais tarde recebi novo telefonema do meu advogado. Disse-me que o Belenenses tinha aceite as minhas pretensões de receber na totalidade do dinheiro, mas não podia pagar tudo a pronto. De qualquer modo, o clube iria fazer o depósito de um montante no imediato, ficando o restante para pagar até maio.

R - Voltou a rejeitar?
M - Não. Pedi ao advogado para ser ele a resolver o assunto com o Belenenses por forma a que a transferência fosse feita para a sua conta. Era mais seguro. Foi comunicado ao clube que só podia inscrever jogadores a partir do momento em que o dinheiro fosse pago. Podia ser um processo rápido através da internet e existia a hipótese de pagar junto da Liga. Até hoje nunca recebi esse dinheiro.

R - Dá a ideia de que o Murça foi a razão pela qual o Belenenses ficou impedido de inscrever jogadores no mercado de inverno...
M - Eu quero esclarecer a minha situação perante os sócios do Belenenses, e o que aconteceu foi que quizeram fazer de mim o bode expiatório. Falei com outros ex-jogadores e ex-treinadores a quem o Belenenses deve dinheiro e nunca foram contactados. Não fui só por minha causa que não puderam fazer inscrições.

«Terão de pagar dívida até agosto»
Record - Quando pensa receber a indemnização a que tem direito?
Murça - Não recebi aquilo que pretendia, mas alguma coisa terá de acontecer até ao mês de agosto. Nessa altura, caso o clube não pague a dívida que tem para comigo, continuará impedido de inscrever jogadores. Este é um problema que me custa muito, por se tratar do Belenenses. Fui júnior do clube, representei-o enquanto jogador, e desempenhei durante muito tempo a função de treinador-adjunto mais diretamente a trabalhar com os guarda-redes. Colocar este processo em tribunal não foi uma decisão nada fácil e foi o meu último recurso.

Acordo quase se consumou a 31 de janeiro
Azuis com dificuldades
O litígio entre Joaquim Murça e o Belenenses terá necessáriamente o deu epílogo no início da próxima temporada, mas o acordo esteve quase a consumar-se a 31 de agosto, último dia para a inscrição de jogadores no mercado de inverno. Isso só não aconteceu porque o dinheiro não abunda no Restelo.

Record sabe que o antigo jogador e treinador dos azuis foi alvo de três tentativas de acordo nesse dia. Na primeira, o Belenenses propôs-se a desembolsar aproximadamente 5 mil euros de imediato, ficando o restante por liquidar até ao final da época. Joaquim Murça rejeitou tal proposta e os azuis, na tentativa de inscrever jogadores que já estavam apalavrados e que só estavam à espera da resolução do assunto, tentou nova investida, desta vez oferecendo uma verba maior: cerca de 20 mil euros. O técnico teria, no entanto, de abdicar de vários meses de vencimento. Nova tentativa gorada.

Já em situação de desespero, foi o próprio presidente, António Soares, quem falou com Murça. O princípio de acordo concretizou-se e consistia no pagamento de 15 mil euros, ficando o resto (a verba integral devida ao treinador) para liquidar até ao final da época. A plataforma de entendimento foi concretizada, mas a verdade é que o depósito não deu entrada na conta de Joaquim Murça e o Belenenses não fez contratações de inverno.
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